terça-feira, 22 de julho de 2014

Associação auxilia cegos a construir histórias de superação

ABDV existe há mais de 30 anos, motivando cegos a conviverem com a deficiência de forma autônoma

O dito popular: “se a vida te der limões, faça uma limonada” se encaixa bem na realidade do servidor aposentado da Câmara dos Deputados e atual presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), César Achkar Magalhães. Dono de um extenso currículo de atuação, Achkar começou a perder a visão em virtude de uma retinose, doença genética progressiva na retina, e foi a partir disso que ele se deparou com uma realidade inimaginável.

“Não conseguia mais dirigir, batia o carro o tempo todo. Foi quando descobri essa degeneração da retina. Estava no último semestre da faculdade de artes, mas já não conseguia fazer os trabalhos. Na Câmara dos Deputados, também não me encaixava em nenhuma função em virtude da deficiência. Então eu me aposentei, desisti da faculdade e parei de dirigir, tudo ao mesmo tempo”, relata o servidor.

Mas a sucessão de problemas ocorridos com Achkar não o desanimou. As dificuldades se tornaram uma força propulsora para que ele pudesse avançar no convívio com a doença e buscar mecanismos para ajudar outras pessoas com a mesma deficiência que a dele.

“Anos depois descobri que o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) atendia adultos e foi lá que aprendi novamente a usar computador, ler com lupa e usar a bengala. Naquela época, tinha uma professora voluntária fazendo um trabalho de argila com cegos e dali para frente tomei coragem, prestei novamente o vestibular, voltei para a mesma faculdade e formei como arte-educador”, relembra.

Após isso, em 2006, com incentivo de outra docente do CEEDV, o servidor aposentado da Câmara dos Deputados, em parceria com outros colegas de turma, decidiu se candidatar à presidência da ABDV e com isso aproveitar o seu conhecimento para auxiliar o próximo.

“O trabalho que fazemos aqui está relacionado à nossa própria história de vida, de superação, até por isso apoiamos muitos projetos culturais, pois foi por meio da arte que conseguimos avançar”, declara César Achkar.

Atualmente a ADBV sobrevive de parcerias, entre elas está o Sindilegis, que contribui financeiramente para manutenção da entidade. Para o desenvolvimento de projetos internos e até mesmo para manter a estrutura, a Associação também presta serviço para outras empresas na área de acessibilidade, como tradução em braille e projetos nesta área.

“A ABDV foi fundada por cegos, passou por muita dificuldade e o Sindilegis foi muito importante neste processo de renascimento da Associação. Sobrevivemos com uma filosofia de não pedir doações, justamente para evitar o reforço ao preconceito de que o cego é incapaz”, frisa o servidor.


Brasília Tátil
Atualmente a ABDV está à frente de um projeto inovador intitulado Brasília Tátil: Cultura Solidária. Em sua terceira edição, esta iniciativa, que começou com a inclusão dos deficientes visuais através da arte, agora está sendo voltada para a profissionalização e capacitação de 40 pessoas com deficiência visual e de baixa renda do DF.

O projeto oferece cursos gratuitos de massagem expressa e massoterapia. Como parte das disciplinas, eles ainda terão aulas de noções de informática, empreendedorismo, cooperativismo, além de passarem por um processo de socialização através da música.

“Priorizamos um curso que dê autonomia aos cegos. Não vamos ministrar apenas técnicas de massagem, vamos complementar com noções de direito, cidadania e cooperativismo, para que esse grupo que está se formando se fortaleça”, explica o presidente da ABDV.

A ABDV, em parceria com a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, também está com um novo projeto à vista: criação de um curso de arte educadore para cegos. A ideia é que deficientes de baixa renda também possam ser alunos desse curso. César Ackhar é um dos responsáveis pelo projeto.  Para ele, a satisfação de ver os seus colegas evoluindo é o que o motiva a prosseguir nesta jornada: “Quando lutamos em grupo, temos muito mais vitórias, pois a vitória do outro também é minha”, finaliza.


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