ABDV existe há mais de 30 anos, motivando cegos a conviverem com a
deficiência de forma autônoma
O dito popular: “se a vida te der
limões, faça uma limonada” se encaixa bem na realidade do servidor aposentado
da Câmara dos Deputados e atual presidente da Associação Brasiliense de
Deficientes Visuais (ABDV), César Achkar Magalhães. Dono de um extenso
currículo de atuação, Achkar começou a perder a visão em virtude de uma
retinose, doença genética progressiva na retina, e foi a partir disso que ele
se deparou com uma realidade inimaginável.
“Não conseguia mais dirigir, batia
o carro o tempo todo. Foi quando descobri essa degeneração da retina. Estava no
último semestre da faculdade de artes, mas já não conseguia fazer os trabalhos.
Na Câmara dos Deputados, também não me encaixava em nenhuma função em virtude
da deficiência. Então eu me aposentei, desisti da faculdade e parei de dirigir,
tudo ao mesmo tempo”, relata o servidor.
Mas a sucessão de problemas
ocorridos com Achkar não o desanimou. As dificuldades se tornaram uma força
propulsora para que ele pudesse avançar no convívio com a doença e buscar
mecanismos para ajudar outras pessoas com a mesma deficiência que a dele.
“Anos depois descobri que o
Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) atendia adultos e foi
lá que aprendi novamente a usar computador, ler com lupa e usar a bengala. Naquela
época, tinha uma professora voluntária fazendo um trabalho de argila com cegos
e dali para frente tomei coragem, prestei novamente o vestibular, voltei para a
mesma faculdade e formei como arte-educador”, relembra.
Após isso, em 2006, com incentivo
de outra docente do CEEDV, o servidor aposentado da Câmara dos Deputados, em
parceria com outros colegas de turma, decidiu se candidatar à presidência da
ABDV e com isso aproveitar o seu conhecimento para auxiliar o próximo.
“O trabalho que fazemos aqui está
relacionado à nossa própria história de vida, de superação, até por isso
apoiamos muitos projetos culturais, pois foi por meio da arte que conseguimos
avançar”, declara César Achkar.
Atualmente a ADBV sobrevive de
parcerias, entre elas está o Sindilegis, que contribui financeiramente para
manutenção da entidade. Para o desenvolvimento de projetos internos e até mesmo
para manter a estrutura, a Associação também presta serviço para outras
empresas na área de acessibilidade, como tradução em braille e projetos nesta área.
“A ABDV foi fundada por cegos,
passou por muita dificuldade e o Sindilegis foi muito importante neste processo
de renascimento da Associação. Sobrevivemos com uma filosofia de não pedir
doações, justamente para evitar o reforço ao preconceito de que o cego é
incapaz”, frisa o servidor.
Brasília Tátil
Atualmente a ABDV está à frente
de um projeto inovador intitulado Brasília Tátil: Cultura Solidária. Em sua
terceira edição, esta iniciativa, que começou com a inclusão dos deficientes
visuais através da arte, agora está sendo voltada para a profissionalização e
capacitação de 40 pessoas com deficiência visual e de baixa renda do DF.
O projeto oferece cursos gratuitos
de massagem expressa e massoterapia. Como parte das disciplinas, eles ainda
terão aulas de noções de informática, empreendedorismo, cooperativismo, além de
passarem por um processo de socialização através da música.
“Priorizamos um curso que dê
autonomia aos cegos. Não vamos ministrar apenas técnicas de massagem, vamos
complementar com noções de direito, cidadania e cooperativismo, para que esse
grupo que está se formando se fortaleça”, explica o presidente da ABDV.
A ABDV, em parceria com a
Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, também está com um novo projeto à vista:
criação de um curso de arte educadore para cegos. A ideia é que deficientes de
baixa renda também possam ser alunos desse curso. César Ackhar é um dos
responsáveis pelo projeto. Para ele, a
satisfação de ver os seus colegas evoluindo é o que o motiva a prosseguir nesta
jornada: “Quando lutamos em grupo, temos muito mais vitórias, pois a vitória do
outro também é minha”, finaliza.
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